MINDELO
O céu cheio de manchas cinzentas umas mais, outras menos escuras, sobre um fundo que se sente azul pelo hábito e por vezes, até vai sendo.
O "monte cara" ao longe sempre pousado na sua lonjura pensativa e sempre tão presente na alma de cada mindelense, o aroma nostálgico do Ser de uma ilha com as raízes mergulhadas no oceâno Atlântico, os sons de uma morna abrindo a noite como quem pede licença mas já entrou e já se instalou suave e inteira, abrindo os braços a quem quiser estar, a menina de camisa encarnada e mini-saia-azul-abertamente com as duas coxas de ébano demoradamente nuas e brilhantes até um determinado ponto inexacto, os 2 amigos calados mas unidos a 2 copos de grogue, a outra menina de camisa cor de rosa e 4 totós verde-alface no cabelo encarapinhado a chupar uma manga pela boca a dentro e uma gota docemente a cair-lhe pelo queixo até à mão naturalmente aberta da mãe absorta nos sons e a voz do cantor, unindo-nos a todos num só lugar, e
depois lá fora, os ruídos dos táxis que vão e vêem dos seus destinos, e ali à frente alguém vai sentado de lado numa bicicleta que desliza sem bem entendermos, como é ?
(algures.2005)
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