quarta-feira, abril 30, 2008

Aconteceu assim e então cantei

Solitário mas caído como a chuva, quero erguer
a floresta ressoada ao longe, o manso som
dos camelos nas mãos, pela noite verdejante
até que enfim, os jardins reinam e no fim há deuses.

E, no entanto, há um olhar derradeiro no fim das visões
tudo o que é felicidade começa por uma torrente
- e sei que não ententes, mas..
vou dizendo,vou tentando entrar pelo lado
mais surdo onde estás adormecido, morto de todo
e eis, o meu fiel cantar, a casa livre, a estrela liberta
o espírito aberto, e eis que aclamo: o teu sol
total, a luz simples desse fim
onde já moras sem margens
sem caminhos, sem barqueiros, sem os amigos
alternando as rosas e os espinhos
quando tremes. Quando?
Já não estás vivo, e ambos o sabemos, agora
só imagens, só pontes que ressoam ao longe
e depois? Um dia destes partes para outra
luz cheia de escuridão negra, luz
assim, ressurgida no início dos homens
no início da Terra, junto aos reis e aos povos
(sem tréguas será esta guerra )
vamos até ao fim separar os abismos da sabedoria?
Vamos ao silêncio dourado,vamos à alegria, vamos quebrar
a constante unânimidade das fontes secas?
Porque não acordas, meu deus?

(Kabrik, in Essências)

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