sábado, outubro 07, 2006

FOI ALGURES JÁ NEM ME LEMBRO

Mesmo no centro da noite: música, corpos a dançarem aluados de todo, com o brilho do sol ainda acordado na pele e os cheiros de África todos espalhados á toa.
Foi algures, já nem me lembro, e eu sentia-me muito vivo de dentro para fora, como um farol aberto ao Mundo. Tudo em mim, tinha um sentido que eu nem pensava, deixava-me atravessar pelos dons que a vida me dava. Quando a Vi, parei:
Alguém mesmo ali á minha frente, dançava no ar, com a alegria nos olhos de quem se sente livre e cheia de luz para emprestar. Era uma menina negra com aquele jeito despojado e solto de quem nada tem a perder por se sentir gente, e, meu deus, era tão bela na sua juventude lisa, pelo corpo a baixo até ás asas dos pés.
Aproximei-me, qual andarilho dançante sem eira nem beira, á procura no fundo de um lugar macio para esquecer a cabeça ao fim da noite, mas no meu jeito cativo de escolher uma flor.
Foi breve a espera dos meus braços á volta daquela cintura, as minhas mãos a espalharem as gotas muitas de suor pelas suas costas a baixo e as bocas cheias de sede ambas sem dono.
E logo a noite teve um outro sentido e todas as estrelas dos universos foram poucas para chamarem o novo dia que felizmente demorou a chegar.


Gaia – 24.25-05-2006
(Fortaleza. Brasil.2003.)

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