domingo, agosto 24, 2008

Mercado de Sucupira

8 horas e tal, as mãos cheias de moscas ou só às vezes e uma delas....Zás....apanhei-te......
e então, depois de uma caxupa num prato redondo mesmo, dentro de uma antiga camionete, transformada em "restaurante", estou numa mesa à porta da dita a colher imagens da gente que vende coisas, que compra algumas dessas coisas e da gente que passa de um lado para o outro e vão abrindo naturalmente o ar que se lhes depara.
No geral, "a coisa está preta".Depois, levanta-se nas cores das roupas. Dá-me a impressão, ainda sugeita a posterior confirmação, que é o vermelho o eleito.Impõe-se só por si é evidente, mas também é muito abusado. A seguir, há os amarelos e os verdes de N tons. O verde-alface é considerado por aqui. (mais depois, claro que há as outras cores, incluindo o branco que não é cor mas para este presente visual contrasta muito bem).
Uma jovem mulher expõe exactamente verticalmente uma garrafa de água com o aspecto de estar bem fresca e espera alguém que a leve.Tem uma bunda maravilhosa e sei lá porque é que olhei para este caso.
Alguém transporta carne de um animal já muito morto numa bacia de plástico cor-de-laranja em cima da cabeça, mas o que eu vejo com estes dois olhos que a terra há-de comer, é uma chusma de moscas enlouquecidas com o manjar. Irão pesar as moscas também, aquando do negócio? Ou, serão o brinde, concerteza.
Lá ao longe o céu está assim-assim, sei lá o que vai fôr e já transpiro bastante.
Passa por aqui uma menina "pineirinha", retocando os cabelos e a treinar o gingar das ancas que ainda se estão abrir às sementes que um dia virão, e lá vai ela muito compenetrada do seu papel à espera de ser amada quando acontecer e será pra breve, vê-se.
Ali vai um "preto" de rádio aos berros na mão esquerda junto ao ouvido do mesmo lado, e é música que não tenho tempo de saber, mas com aquele ar tão feliz, é boa música de certeza.
Ainda as eternas mangas ao lado sempre as bananas juntas ao kilo, a evidente e muito dura realidade da sobrevivência.
E são as Mulheres que erguem - sempre rodeadas de pinhas de filhos - toda esta trabalheira. Cumprem-na devotadas, depois desenlaçam-se e ao fim da noite encostam ao de leve a cabeça a uma esperança que nunca entendi, mas senti, e ficam assim à espera do que será meu deus? O papel dos homens por estas bandas, eu ainda não estudei bem nem mal o assunto, mas parece-me que é esporradicamente atirarem-se a elas que nem machos com cio e depois bazarem logo na primeira curva para as sombras do grogue ou de outras sombras quaiquer alinhadas na preguiça ou desenrrascarem mais um poiso temporário qualquer por onde vão cumprindo os seus profundos ofícios de vagabundos marinheiros.
Estas Mulheres são as raízes destas 10 ilhas - o resto é mar, mar e mais mar e depois, ainda o mar.
(...)
-Cabo Verde.Praia. Algures em agosto de2008-

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